A MORTE DE UZÁ
A MORTE DE UZA
Jaime Bergamim[1]
Texto Bíblico
E, chegando à eira de Quidom, estendeu Uzá a sua mão, para segurar a arca, porque os bois tropeçavam. Então se acendeu a ira do Senhor contra Uzá, e o feriu, por ter estendido a sua mão à arca; e morreu ali perante Deus. 1 Cr. 13:9-10
Resumo: Uzá, dono de uma história confusa e de difícil interpretação a luz de alguns ensinadores. No entanto, o que estava em jogo era avida de uma nação por erro de um rei mal informado sobre como deveria conduzir o maior símbolo da glória de Deus em Israel. A responsabilidade de conduzir a Arca até Jerusalém deveria ser de um sacerdote levita da tribo de Coate e Uzá era da tribo de Merari, que eram responsáveis para conduzir o carro que levava objetos nãos agrados que podia ser tocado. Por esse motivo que Uzá talvez não teve o cuidado de se afastar da Arca quando o carro cambaleou, ou por sacrificar em prol da nação
INTRODUÇÃO: Diante muitas especulações sobre a morte de Uzá, temos alguns motivos bíblicos e bem claro quanto a sua intenção de proteger a Arca para não cair quando ela cambaleou na Eira de Nacon. Vejamos então alguns ofícios dos levitas para darmos início ao nosso artigo
Gersonitas – ganharam duas carroças e quatro bois para o serviço de transporte dos seus objetos.
Dois carros e quatro bois deu aos filhos de Gérson, segundo o seu ministério (Nr.7.7)
Meraritas – ganharam quatro carroças e oito bois para o transporte dos objetos sob seus cuidados:
E quatro carros e oito bois deu aos filhos de Merari, segundo o seu ministério, debaixo da mão de Itamar, filho de Arão, o sacerdote. (nr. 7.8)
Coatitas – estes não receberam carros de bois para o transporte, porque sua missão era transportar a mobília sagrada nos ombros.
Mas aos filhos de Coate nada deu, porquanto a seu cargo estava o santuário e o levavam aos ombros. (Nr. 7.9).
I. ANALISANDO OS TEXTO E OS CONTEXTOS
Algumas interpretações erronias se tem feito em torno da pessoa de Uzá, pelo fato de ter tocado na arca do Senhor quando essa era levado para Jerusalém, ou pelo menos naquele momento era a intensão Davi em assim fazer.
No entanto a formas como a Arca foi conduzida de acordo com os textos bíblicos acima citados, não estava correto. Vamos ver então que os que receberam carros de bois para o transporte de objetos, podiam, não somente tocar em tais objetos ao longo da viagem, como deveriam estar atentos para que nenhum deles caísse do carro, pois cada um daria conta do que lhe foi confiado. O mesmo não é dito dos coatitas, estes deveriam transportar a mobília nos ombros por meio de varas, mas sem tocar neles, sob pena de morte:
Havendo, pois, Arão e seus filhos, ao partir do arraial, acabado de cobrir o santuário, e todos os instrumentos do santuário, então os filhos de Coate virão para levá-lo; mas no santuário não tocarão para que não morram; este é o cargo dos filhos de Coate na tenda da congregação.
Porém o cargo de Eleazar, filho de Arão, o sacerdote, será o azeite da luminária e o incenso aromático, e a contínua oferta dos alimentos, e o azeite da unção, o cargo de todo o tabernáculo, e de tudo que nele há, o santuário e os seus utensílios. E falou o Senhor a Moisés e a Arão, dizendo: Não deixareis extirpar a tribo das famílias dos coatitas do meio dos levitas. (Nr. 4.15-18).
Muito se questiona sobre Uzá, que embora sendo levita, foi punido com a morte por haver tocado na Arca da aliança quando os bois tropeçaram no caminho a Jerusalém, no reinado de Davi. Alguns apresentam as mais diversas justificativas e fazem aplicações com base no ocorrido, no entanto, boa parte das justificativas e aplicações, simplesmente desconsideram fatos de bastante relevância no contexto histórico, por exemplo: a qual dos clãs levítico pertencia Uzá? Para transportar a Arca, não bastava ser levita, era necessário pertencer ao clã próprio para essa função, no caso, o clã dos coatitas.
Vamos entender o ocorrido: Uzá estava com a intenção boa de proteger a arca, por não ter prestado atenção a um detalhe, será que Deus realmente puniria ele com a morte?
Vamos a alguns detalhes que são esquecidos por aquele que dizem que usa desobedeceu as ordens divina:
Davi selecionou os melhores cantores e organizou a adoração por meio do louvor em Israel, até os descendentes de Coré, que foi o responsável pela rebelião no deserto, foram arrolados no coral, tendo como regente do primeiro coro Hemã, filho de Joel, que remonta a Corá, líder da rebelião contra Moisés no Êxodo
E a terra abriu a sua boca, e os tragou com as suas casas, como também a todos os homens que pertenciam a Coré, e a todos os seus bens.
Os filhos de Corá que não pertenciam à rebelião do pai, e permaneceram vivos como consta no deram continuidade aos seus ofícios.
Mas os filhos de Coré não morreram.(Nr.26.11)
O ambiente era de festa, pois a Arca estava sendo levada para Jerusalém. Como os levitas não tinham mais a função de transportar o tabernáculo pois já estavam na terra,
Dentre os levitas cantores, estava Uzá, que pertencia ao clã dos meraritas (I Cr. 6.29,30). Os meraritas transportavam os objetos sagrados em carros de bois, e não havia proibição alguma sobre o tocar nos objetos que eles transportavam. No entanto, dois erros foram cometidos aqui, não somente por Davi, mas também por seus assessores:
- Uzá não pertencia ao clã dos coatitas, portanto, não era o levita
mais indicado para conduzir a Arca até Jerusalém.
- A Arca não deveria ser transportada em carros de bois, mas sobre os ombros dos coatitas.
Pontos a considerar
· Uzá não estava em pecado;
· Não ignorância dele toca na arca;
· Não esqueceu de observar nenhum detalhe, pois era com comum tocar nos objetos que estavam encima do carro
II. ANALISANDO O FATO
A intenção de Uzá, não implicou em nenhuma desobediência, porque Deus não aceita obediência de um coração impuro e não era esse o caso Uzá:
Visão de Isaías, filho de Amós, que ele teve a respeito de Judá e Jerusalém, nos dias de Uzias, Jotão, Acaz, e Ezequias, reis de Judá.Ouvi, ó céus, e dá ouvidos, tu, ó terra; porque o Senhor tem falado: Criei filhos, e engrandeci-os; mas eles se rebelaram contra mim.O boi conhece o seu possuidor, e o jumento a manjedoura do seu dono; mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende. Ai, nação pecadora, povo carregado de iniqüidade, descendência de malfeitores, filhos corruptores; deixaram ao Senhor, blasfemaram o Santo de Israel, voltaram para trás. Por que seríeis ainda castigados, se mais vos rebelaríeis? Toda a cabeça está enferma e todo o coração fraco. Desde a planta do pé até a cabeça não há nele coisa sã, senão feridas, e inchaços, e chagas podres não espremidas, nem ligadas, nem amolecidas com óleo. A vossa terra está assolada, as vossas cidades estão abrasadas pelo fogo; a vossa terra os estranhos a devoram em vossa presença; e está como devastada, numa subversão de estranhos. E a filha de Sião é deixada como a cabana na vinha, como a choupana no pepinal, como uma cidade sitiada. Se o Senhor dos Exércitos não nos tivesse deixado algum remanescente, já como Sodoma seríamos, e semelhantes a Gomorra. Ouvi a palavra do Senhor, vós poderosos de Sodoma; dai ouvidos à lei do nosso Deus, ó povo de Gomorra. De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios, diz o Senhor? Já estou farto dos holocaustos de carneiros, e da gordura de animais cevados; nem me agrado de sangue de bezerros, nem de cordeiros, nem de bodes. Quando vindes para comparecer perante mim, quem requereu isto de vossas mãos, que viésseis a pisar os meus átrios? Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação, e as luas novas, e os sábados, e a convocação das assembleias; não posso suportar iniquidade, nem mesmo a reunião solene. As vossas luas novas, e as vossas solenidades, a minha alma as odeia; já me são pesadas; já estou cansado de as sofrer. Por isso, quando estendeis as vossas mãos, escondo de vós os meus olhos; e ainda que multipliqueis as vossas orações, não as ouvirei, porque as vossas mãos estão cheias de sangue. Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus olhos; cessai de fazer mal. Aprendei a fazer bem; procurai o que é justo; ajudai o oprimido; fazei justiça ao órfão; tratai da causa das viúvas. (Is. 11-17)
Fica claro, não adianta um homem cumprir todas as leis de Deus mas em seu coração conter pecados, mentiras, injustiças, Deus não aceita obediência aos detalhes de quem está com coração sujo diante D’ele. Vale muito mais para Deus uma boa intenção com coração limpo do que se ‘atentar’ aos detalhes com coração impuro diante dele.
Nosso Deus primeiro analisa e julga o coração do homem e se essa atitude e o coração for bom o ato se torna justo. Vejamos algumas referências sobre isso
Dizendo: Por que jejuamos nós, e tu não atentas para isso? Por que afligimos as nossas almas, e tu não o sabes? Eis que no dia em que jejuais achais o vosso próprio contentamento, e requereis todo o vosso trabalho. Eis que para contendas e debates jejuais, e para ferirdes com punho iníquo; Não jejueis como hoje, para fazer ouvir a vossa voz no alto. Seria este o jejum que eu escolheria, que o homem um dia aflija a sua alma, que incline a sua cabeça como o junco, e estenda debaixo de si saco e cinza? Chamarias tu a isto jejum e dia aprazível ao Senhor? Porventura não é este o jejum que escolhi, que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo e que deixes livres os oprimidos, e despedaces todo o jugo? Porventura não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres abandonados; e, quando vires o nu, o cubras, e não te escondas da tua carne? (Is. 58.3-7)
Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia. (Mt. 23.27).
Mostrou Uzá desprezo pelas regras? Não.
Muitos infelizmente, montam até sermões falando que Uzá foi “prepotente e orgulhoso”, onde se viu ele tocar na Arca de Deus, tocar onde não estava preparado para tocar.
Mais uma vez, vamos aos contextos
A arca ficou vinte anos na casa de Abenadabe que era pai de Uzá:
Então vieram os homens de Quiriate-Jearim, e levaram a arca do SENHOR, e a trouxeram à casa de Abinadabe, no outeiro; e consagraram a Eleazar, seu filho, para que guardasse a arca do SENHOR.E sucedeu que, desde aquele dia, a arca ficou em Quiriate-Jearim, e tantos dias se passaram que até chegaram vinte anos, e lamentava toda a casa de Israel pelo Senhor. (1 Sm. 7.1-2)
Se Arca ficou 20 anos na casa dele, será que ele não sabia que não podia tocar na nela? E outra, Uzá era sob rinho do rei Davi Abinadabe era irmão de Davi, sendo assim, Uzá era sobrinho de Davi
Foram-se os três filhos mais velhos de Jessé, e seguiram a Saul à guerra; e eram os nomes de seus três filhos, que se foram à guerra, Eliabe, o primogênito, e o segundo Abinadabe, e o terceiro Sama.( 1 Sm 17.13)
Ele com certeza ouviu as histórias da arca, história dos filisteus, ele sabia a gravidade de toca na arca de Deus sem ser um filho de Coate (descendente).
III, QUE DEVERIA SER PUNIDO, DAVI OU UZA?
Se alguém que merecia ser punido ali era Davi e não Uzá, pelos seguintes motivos
1. Davi não consulto nenhum profeta
Não viu qual era a melhor forma de fazer isso, ou seja conduzir a arca para Jerusalém; ele não verificou a maneira correta de transportar a arca. Davi foi imprudente e ignorou o fato de Arca só deveria andar sobre os ombros de levitas e não de carros de boi
A arca nunca poderia ser colocada num carro, isso era pratica do filisteu, ela deveria ser transportada sobre os ombros dos homens da família de Coate
Mas aos filhos de Coate nada deu, porquanto a seu cargo estava o santuário e o levavam aos ombros. (Nr. 7.9)
Havendo, pois, Arão e seus filhos, ao partir do arraial, acabado de cobrir o santuário, e todos os instrumentos do santuário, então os filhos de Coate virão para levá-lo; mas no santuário não tocarão para que não morram; este é o cargo dos filhos de Coate na tenda da congregação.(Nr. 4.15)
E fundirás para ela quatro argolas de ouro, e as porás nos quatro cantos dela, duas argolas num lado dela, e duas argolas noutro lado.
E farás varas de madeira de acácia, e as cobrirás com ouro.
E colocarás as varas nas argolas, aos lados da arca, para se levar com elas a arca. (Exô 25.12-14)
Só os filhos de Coate poderiam tocar na arca, Davi sábia que Uzá não era filho de Coate e mesmo assim permitiu que ele carregasse a arca, a imprudência foi de Davi ou de Uzá? Uzá só obedeceu as ordens do rei!
Que Uzá estava errado todos já sabem, mas, o que fez ele a tocar na arca, a motivação que fez com que ele tocasse na arca é isso que precisamos saber antes de qualquer interpretação sem contexto.
2. O que realmente aconteceu com Uzá
Agora vamos propor o que realmente aconteceu com Uzá naquele dia. Ao invés de falar que Uzá foi punido por ter feito a coisa errada, porque não dizer que ele foi punido por ter feito a coisa certa?
Talvez Uzá ao ver a arca preste a cair, decidiu se sacrificar para evitar que um mal ainda maior recaísse sobre o Rei Davi e também proteger toda sua família e as pessoas ali perto.
O que poderia acontecer naquele dia se a arca tivesse caído? Vamos analisar alguns acontecimentos que nos dá o direito de defender o ato heroico de Uzá.
1 Samuel 6:19.20
E o Senhor feriu os homens de Bete-Semes, porquanto olharam para dentro da arca do Senhor; feriu do povo cinqüenta mil e setenta homens; então o povo se entristeceu, porquanto o Senhor fizera tão grande estrago entre o povo.Então disseram os homens de Bete-Semes: Quem poderia subsistir perante este santo Senhor Deus? E a quem subirá de nós? (1, Sm 619.20)
Nessa passagem mostra Deus causando grande estragos à uma nação por ter olhado dentro da arca. Será que Uzá já não conhecia essa história? Não estaria Uzá evitando que isso acontecesse novamente com seu povo dessa vez? Se a Arca caísse, possivelmente alguém olharia lá dentro e todos morreriam.
Em 1 Samuel Capítulo 5 vemos Deus vemos a mão de Deus se agravando sobre os filisteus por fazerem besteira com a arca (roubaram do povo de Israel a arca). Será que Uzá também não conhecia essa história?
Uzá sabia que Arca não podia cair, porque se caísse muitos olhariam para dentro da Arca e certamente morreriam; Uzá protegeu todos naquele momento
Quem sabe Uzá não pensou: Vou me sacrificar para que minha família, amigos e o Rei tenha vida. Poderia o sacrifício de Uzá ter remido o pecado de outros? Sim, isso ocorre nas escrituras
E eis que veio um homem dos filhos de Israel, e trouxe a seus irmãos uma midianita, à vista de Moisés, e à vista de toda a congregação dos filhos de Israel, chorando eles diante da tenda da congregação. Vendo isso Finéias, filho de Eleazar, o filho de Arão, sacerdote, se levantou do meio da congregação, e tomou uma lança na sua mão;
E foi após o homem israelita até à tenda, e os atravessou a ambos, ao homem israelita e à mulher, pelo ventre; então a praga cessou de sobre os filhos de Israel. (Nr. 25.6-8)
O texto diz que quando Finéias filho de Eleazar, atravessou um príncipe israelita chamado Zinri, a vida desse príncipe israelita que fora oferecida, fez a praga sobre o acampamento dos israelitas cessar.
CONCLUSÃO
Uzá se sacrificou para que toda sua família e amigos pudessem viver assim como Cristo se sacrificou para que pudéssemos ter vida. Uzá não foi um pecador, orgulhoso, prepotente como muitos pregam por aí, mas sim um herói como Cristo foi dando sua vida por amor ao próximo.
“Quem ama uma causa, se sacrifica por ela” – Yeshua Hamashia (Jesus Cristo) nos amou e se fez maldito por nós (Gl 3:13) para que não fossemos entregue a morte.
Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro; (Gl. 3.13)
Nesse pequeno artigo, espero ter deixado claro e rebatido alguns ensinamentos mal interpretados em no meio proposital ou por falta de conhecimento bíblico ou até mesmo quando se faz uma interpretação fora de exegese isolando assim o verdadeiro significado do texto.
Colombo-Pr. 20 de abril de 2017
[1] Curso Básico de Teologia pela EETAD Campinas –Sp. Curso Médio de Teologia pel FAETA, Campinas -Sp e Bacharel em Teologia – Faculdade Walter Martins (FWM), Rio de Janeiro-Rj, Mestrado em Psicologia Pastoral – Faculdade Teológica da Bahia (FATCBA), Vitória da Conquista Bahia-BA, Pedagogo (Licenciatura plena) Universidade Castelo Banco (UCB) São Paulo-SP, Pós-Graduando em Gestão de Pessoas, Pós-Graduando em Aconselhamento Bíblico – Faculdade Teológica Betânia (FATEBE), Pós Graduado em Psicologia da Família e Educação Faculadade IPMIG Belo Horizonte - Mg Curitiba-Pr Professor do instituto Bíblico das Assembleias de Deus Ensino e Pesquisa (IBADEP) Colombo-Pr, Professor da Escola Bíblica Dominical em Várias Igrejas. Curso de aperfeiçoamento em Escatologia pela Instituto Ugo Cariel Penã e Daril Sales, Seminário de Dala no Chile (curso por extensão). Ev. Na Igreja Evangélica Assembleia de Deus – Ministério de Guaraituba-Colombo-Pr.